terça-feira, 8 de julho de 2008

A renovação



Há quem diga que não se deve perder tanto tempo com a mente, principalmente quando esta está inquieta; que o atalho mais sábio para a felicidade seja a ignorância. Por vezes, cheguei a concordar com isso, mesmo que no fundo não me sentisse satisfeita com tamanha preguiça que nos motiva a optar por tais atalhos. Devo confessar que tal venda me trouxe avanços, deleites e até mesmo “amigos”. Pude descobrir uma faceta da existência seguida por muitos, que, digamos: ou não se permitem imergir numa confusão de pensamentos e sensações pela busca, talvez inócua, de uma razão de ser, ou desistem no transcorrer dessa estrada escaldante, ou sequer tenham tempo, paciência ou, quem sabe, cognição para tanto, preferem o imediato a uma possível sensação de loucura. Digo que tal fuga é algo escusável, porque não vencível. O mundo hodierno tem nos impulsionado para uma pilha de conveniências e objetivos pré-traçados, que perdemos de vista o mapa da essência de nós mesmos, inclusive os meios para alcançarmos o que chamam de felicidade. Ninguém sabe mais o que é ser feliz. Você sabe? Será que ser feliz é ter ou ser o que, em regra, não se tem ou é. Ou será conquistar o que o outro não conquista, por mero deleite e vaidade. Talvez definições mais casuais sejam: ser feliz é ter controle sobre tudo que transcorre na minha vida, é ter pessoas queridas ao meu lado, é guiar a vida em um eterno romantismo. Os biólogos seriam sucintos, diriam que ser feliz é a sensação decorrente de um fenômeno bioquímico, nada que a serotonina não possa dar azo. Felicidade, eu arriscaria, é algo profundo, íntimo de nós mesmos, algo relativo. Nada palpável ou recarregável, mas algo renovável por nós mesmos. Certa vez li em um rótulo de um botijão de água mineral: só é eterno aquilo que se renova. Sábias palavras. Pois bem, chega a hora de renovar-me. E nada se renova senão por esforço ou permissão. Me permito ser imersa em pensamentos, sensações, reações, tentativas. Eis o meio legítimo por meio do qual buscarei (também) a minha felicidade.

2 comentários:

J. disse...

Pra quem tá começando, vc me deixou boquiaberta! Belo texto, viu?
Senti tb a vontade de me renovar, em busca dessa tão propalada felicidade...mesmo que pra gente ela não consiga ser eterna.

Sr. Eulálio disse...

Muito bom, senhorita. Deixo aqui um texto dentro do tema... Bj.

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
(Clarice Lispector)